quarta-feira, 5 de junho de 2013

O início do amor pela leitura


Quando era pequena aprendi a me interessar por leitura vendo a minha avó olhar a Bíblia. Olhar. E olhar não é ler. Minha avó mal sabia escrever o próprio nome. Ela não foi à escola porque o pai a proibia, para ele, ler não era coisa de mulher e ela cresceu assim. Muito religiosa, sempre ia à igreja com a sua Bíblia e me dizia que um dia aprenderia a ler, não me esqueço dela olhando as páginas da Bíblia. Isso me marcou muito.
Assim que aprendi a ler e escrever razoavelmente, escrevia para a família da minha avó que morava em outro estado. Ela ditava, eu escrevia. Com isso me sentia útil e importante para ela. E assim nasceu em mim o prazer de ler. No início lia tudo o que aparecia pela frente, como não tinha dinheiro para comprar livros era frequente ler um gibi dezenas de vezes.  Com o tempo fui percebendo que a leitura me dava a oportunidade de conhecer cada vez mais coisas, tinha a sensação de viajar em um mundo que era só meu e do autor do texto. No início da adolescência serviu como fuga dos meus medos e inseguranças. Foi também nessa época que surgiu a necessidade de escrever. Escrevi dezenas de diários para esgotar minhas angústias, foi uma ajuda e tanto.
Hoje a minha fome de leitura se assemelha ao que o Rubem Alves disse: é uma necessidade antropofágica. Também me sinto resultado dos muitos escritores que devorei. Sobre a minha avó? Ela realizou seu sonho, aprendeu a ler aos 55 anos, depois de criar filhos e netos, graças ao antigo MOBRAL e pôde ler, ela mesma, a sua Bíblia. 
Eliane do Nascimento Aleixo Dias Ribeiro - Professora de Língua Portuguesa. 

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