quarta-feira, 5 de junho de 2013

Experiência Nordestina

No ano passado lecionei para alunos de 6º ano (5ªsérie) no período da tarde, e uma dessas salas recebeu um aluno novo no segundo semestre.
Era o Richardson, chegou tímido e como de costume demos boas vindas e qual foi nossa surpresa, seu sotaque e sua linguagem era muito diferente, pois ele havia chegado do Nordeste de uma cidade chamada Aracati (Pernambuco) e tinha vindo aqui para Mogi Mirim morar com a avó que estava
doente.

As crianças se interessaram pelas palavras que o menino se expressava e ainda perguntavam como  se falava determinadas palavras, a curiosidade ainda foi maior quando ele falou que em sua família tinha dois repentistas que participaravam de Festivais de Repentes. Aí pronto, era tudo o que eu queria, achei uma grande oportunidade para trabalhar as variações lingüísticas  relacionadas aos dialetos nordestinos.
Como Richardson havia mencionado sobre o Repente introduzi também os Cordéis e acabei explicando que se tratava de uma linguagem oral e verbal, musical e gráfica, onde conta de maneira simples a vida das pessoas humildes de nosso país, mas que são ricas em conhecimento,histórias,vivências, e exemplos vida.
Os alunos fizeram pesquisas na biblioteca da escola, nas aulas em que fomos à sala de Informática e nos materiais ilustrativos que eles trouxeram de casa. Então eles puderam conhecer a origem, a história, as rimas e métricas, os temas abordados e as produções dos textos. Em seguida os alunos
pesquisaram alguns autores de cordéis e especialmente a biografia e os textos de Patativa do Assaré, foi onde pude mostrar as variações linguísticas e mostrar também que a linguagem "certa" não é apenas a que esta na mídia e nos falares de pessoas de altas classes sociais.
Trabalhei os folhetos de cordéis e até convidei uma cordeirista para palestrar sobre o tema. Depois de toda essa sequência didática coloquei como proposta de trabalho, que eles desenvolvessem  suas  próprias poesias, destaquei alguns temas e os mais escolhidos foram sobre "Amor" e "Terror".
Depois de lidos e revisados a professora de Artes trabalhou também a xilogravura  nordestina e destacou o valor do que é feito artesanalmente.
Concluí essa atividade com um mural, onde havia toda a pesquisa sobre a Literatura de Cordel e também foi feito uma exposição dos cordéis confeccionados pelos alunos.
Foi muito legal e para fechar essa vivência no final do ano o avô do Richardson se apresentou na escola e ele trouxe também vários materiais que estão na biblioteca da escola para que os alunos possam pesquisar e conhecer essa riqueza cultural.
O Richardson já voltou para o Nordeste, mas construiu sua história e deixou saudades. A amizade dele com nossos alunos ficou, pois as vezes escuto um o outro aluno dizendo que conversou com ele (Richardson) pelo facebook e que hoje ele também usa expressões e palavras que
aprendeu  aqui...
Achei legal colocar essa vivência, pois foi uma experiência que deu certo e que foi muito gratificante.

Professora  Denise C.F. da Rocha

O início do amor pela leitura


Quando era pequena aprendi a me interessar por leitura vendo a minha avó olhar a Bíblia. Olhar. E olhar não é ler. Minha avó mal sabia escrever o próprio nome. Ela não foi à escola porque o pai a proibia, para ele, ler não era coisa de mulher e ela cresceu assim. Muito religiosa, sempre ia à igreja com a sua Bíblia e me dizia que um dia aprenderia a ler, não me esqueço dela olhando as páginas da Bíblia. Isso me marcou muito.
Assim que aprendi a ler e escrever razoavelmente, escrevia para a família da minha avó que morava em outro estado. Ela ditava, eu escrevia. Com isso me sentia útil e importante para ela. E assim nasceu em mim o prazer de ler. No início lia tudo o que aparecia pela frente, como não tinha dinheiro para comprar livros era frequente ler um gibi dezenas de vezes.  Com o tempo fui percebendo que a leitura me dava a oportunidade de conhecer cada vez mais coisas, tinha a sensação de viajar em um mundo que era só meu e do autor do texto. No início da adolescência serviu como fuga dos meus medos e inseguranças. Foi também nessa época que surgiu a necessidade de escrever. Escrevi dezenas de diários para esgotar minhas angústias, foi uma ajuda e tanto.
Hoje a minha fome de leitura se assemelha ao que o Rubem Alves disse: é uma necessidade antropofágica. Também me sinto resultado dos muitos escritores que devorei. Sobre a minha avó? Ela realizou seu sonho, aprendeu a ler aos 55 anos, depois de criar filhos e netos, graças ao antigo MOBRAL e pôde ler, ela mesma, a sua Bíblia. 
Eliane do Nascimento Aleixo Dias Ribeiro - Professora de Língua Portuguesa.