O Aeroporto.
(Carlos Drummond de Andrade)
Sugestão de aula para 6º ano.
Tempo previsto: 4 aulas
- Ativação de conhecimentos prévios, mostrando
imagens de diversos aeroportos, em especial o Galeão e sua localização.
- Mostrar imagens de pessoas se despedindo ou se encontrando, a fim de destacar emoções e sentimento presentes nesse espaço e nessa situação e trabalhar as possíveis emoções, sentimentos e sensações do momento.
_Questões de entendimento do texto, tais como:
1.Por que Pedro dava trabalho?
2.Por que mesmo mudando toda a
rotina da casa, as pessoas o admiravam?
3.De que modo ele conseguia
encantar as pessoas?
4.Você
convive ou já conviveu com alguém nas mesmas condições de Pedro? Conte-nos a
respeito.
NO AEROPORTO
Carlos Drummond de Andrade
Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos
três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos
entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre
tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja
extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar
nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões
pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.
Passou dois meses e meio
em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo
plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da
pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial,
revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e oriental, e em
particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos,
gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a
classificação.
Devo dizer que Pedro,
como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais,
roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples
presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores. Recebia
tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e ninguém se
lembraria de achá-lo egoísta ou importuno. Suas horas de sono - e lhe apraz
dormir não só à noite como principalmente de dia - eram respeitadas como ritos
sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-lo. Acordaria
sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém nós mesmos é
que não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos. Assim, por conta de Pedro, deixamos
de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também nossos
olhos e ouvidos se forraram à tortura da tevê. Andando na ponta dos pés, ou
descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha
importância.
Objetos que visse em
nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de
pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples
ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (é
seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o
conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo
diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis — porque me
esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita ou
acusação apressada, sobre a razão íntima de seus atos.
Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir
entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me
com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para
Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me
sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas
coisas eram indiferentes à nossa amizade — e, até, que a nossa amizade lhe
conferia caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.
Viajou meu amigo Pedro.
Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro
já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. Em:
Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. p.1107-1108
Produção de texto
Pedir aos
alunos que imaginem o que aconteceu após a partida de Pedro, como a família se
sentiu, para onde Pedro foi, como ele está agora. A partir desses
questionamentos, os alunos produzirão uma narrativa.
Professora Dilene de Lima Brugnaro
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